A crônica me atrai porque eu gosto das trivialidades da vida. Gosto do cotidiano. Gosto do folhetim. Gosto de conversas simples sobre o dia a dia. Gosto de gente. Gosto da notícia de jornal. Gosto de ler. E gosto de escrever.
Quisera eu ter a inspiração necessária para que este blog fosse uma concentração de crônicas por mim escritas. Sim: se eu fosse contemplada por lampejos de criatividade com a frequência que posts diários requerem, esse espaço aqui seria destinado exclusivamente às minhas crônicas. Elas são, sem dúvida, minha primeira motivação de postagens; meu impulso mais original, pessoal e genuíno. Como, porém, falta-me a capacidade para escrever crônicas com grande regularidade, tive que acabar recheando o blog de posts sobre outros assuntos: receitas, resenhas literárias, vídeos e todas as outras categorias que vocês encontram por aqui. Não que os outros posts – que não são crônicas – sejam falsos ou forçados. Eu gosto de escrevê-los também. Mas a crônica é minha grande paixão.
Ouso, porém, acreditar que minha falta de inspiração diária para cronicar possa ser trabalhada por mim. E é por isso que aqui estou eu, cronicando sobre a crônica: porque acabo de me dar conta de que o primeiro passo para ser um cronista é perceber que tudo é cronicável. A crônica é a tradução escrita da correria do dia a dia; é a materialização, em letras, das impressões mais frívolas e triviais do cotidiano; é a versão literal da rotina.
Ao mesmo tempo, é essencial estar cônscio de que para cronicar não basta ter uma opinião sobre tudo o que é mais banal e prosaico. É preciso estar no mundo; é preciso ver o mundo; é preciso observar; é preciso absorver.
A matéria está no mundo. A alma está no cronista. A alma, sem a matéria, é vazia. A matéria, sem a alma, é opaca.
Por isso, de agora em diante, meu desafio diário será o de não ser uma alma errante, que não enxerga a bruta matéria que está ao seu redor. E, ao mesmo tempo, o de tomar para mim a matéria bruta – que está nas ruas, nos jornais, na cultura e no trabalho – e conferir-lhe brilho especial. Brilho que só pode ser concedido pelas mãos de um cronista.