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Além das mudanças físicas externas e internas que já são muito conhecidas por todo mundo (crescimento da barriga, inchaço, compressão de alguns órgãos...), a gravidez provoca, no organismo da mulher, algumas alterações curiosas. Vocês sabiam, por exemplo, que a gravidez reduz a massa cinzenta da gestante? Já li que esta é uma adaptação inteligentíssima que o corpo da grávida sofre e que a torna menos racional e mais emocional – e, portanto, uma pessoa mais sensível aos instintos e mais apta a cuidar de um serzinho totalmente dependente.
A natureza é, realmente, muito sábia. Mas, além de todas estas mudanças, seria interessante que a mulher grávida fosse contemplada com uma outra alteração fisiológica: um certo nível de surdez que a impedisse de escutar comentários e palpites infelizes – que as pessoas insistem em dar durante a gestação. Teria que ser uma surdez seletiva, é claro. Mas como a natureza humana ainda não desenvolveu este mecanismo de autodefesa e sobrevivência, cumpre a nós, gestantes, não dar ouvidos a certas coisas que escutamos por aí.
Eu até que não posso reclamar muito (não sei se é porque eu não dou muita abertura a conselhos não solicitados...): eu não tenho ouvido tanta asneira durante a minha gestação. Mas um ou outro palpite errado a gente sempre escuta a partir do momento em que terceiros descobrem que estamos grávidas.
Todo mundo tem um caso bizarro para contar, uma opinião "muito bem fundamentada" sobre parto, um comentário sobre o seu médico... Enfim... Muitas vezes, essas pessoas que vêm opinar não têm qualquer intimidade com a grávida; e o mais engraçado é que com frequência elas sequer tiveram filhos (e, no entanto, falam com um enorme conhecimento de causa...)!
O segredo é, sempre, não dar ouvidos.
Não dar ouvidos, por exemplo, a pessoas que tecem críticas mal embasadas em relação ao profissional que você escolheu para fazer seu pré-natal. Logo que eu engravidei, fiz uma consulta de rotina com uma médica – que não era ginecologista nem obstetra – e comentei com ela a respeito da minha gravidez. Ela me perguntou quem era o médico que estava me acompanhando e, quando eu citei o nome de uma das pessoas que eu estava cogitando adotar como minha obstetra, ela comentou que "não confiava" nesta profissional. Eu perguntei o porquê e ela elencou dois motivos. O primeiro era: "essa médica falou para uma conhecida andar durante o trabalho de parto". Já respirei aliviada, porque esta recomendação está longe – muito longe! – de ser absurda. Pelo contrário: principalmente depois de ter me informado muito sobre o trabalho de parto, hoje eu sei a importância da verticalização e da deambulação para que ele se desenvolva de uma maneira mais rápida, eficiente e segura. O segundo motivo era: "essa médica deixou uma conhecida viajar para o carnaval de Salvador quando ela estava com sete meses de gestação". Aí eu perguntei: "E aconteceu algo de errado com a sua conhecida?" E ela respondeu: "Não". Hahaha! Ou seja: já vi que não precisava levar em consideração esta "falta de confiança".
Não dar ouvidos, também, a pessoas desinformadas que querem te convencer a ter um tipo de parto diferente do que o que você deseja. Está aí um assunto em relação ao qual eu não dou a menor abertura a palpites, até porque as pessoas costumam ser muito "engajadas" em suas opiniões: enquanto há quem ache o parto natural "um absurdo", há aqueles que recriminam veementemente a cesária e outros que torcem o nariz para o parto normal.
Gente, entendam de uma vez por todas: é a gestante que vai passar pelo trabalho de parto; é a gestante a única pessoa capaz de ouvir seu corpo e saber suas limitações; é a gestante que vai ter que arcar com todas as dificuldades do período de recuperação pós-parto; é a gestante que vai sentir as dores do parto. Então, cabe apenas à gestante, e a mais ninguém, escolher o tipo de parto que deseja ter. Não interessa se sua vizinha teve um parto normal traumático; não interessa se a irmã da sua amiga se arrependeu de ter escolhido o parto natural; não interessa se a sua colega de trabalho quase morreu durante a recuperação de uma cesariana. Repito: realmente não interessa.
Cada gestante tem um organismo; cada bebê é de um jeito; cada parto é um parto. Deixe a gestante se informar, ler, tirar suas dúvidas com o profissional em que ELA confia e, a partir daí, fazer a sua escolha pessoal sobre o parto. A opinião de um terceiro é o que menos importa nesse momento.
Também é preciso tapar os ouvidos para as pessoas que "não aguentam mais" esperar para descobrir o sexo do seu filho. Cabe apenas ao casal que espera um bebê decidir em que momento quer saber o sexo da criança, e mesmo decidir quando e como a notícia vai ser divulgada. Se sua bisavó, sua chefe ou sua melhor amiga estão "ansiosíssimas" querendo saber se você espera uma menina ou um menino, fale pra elas irem meditar, relaxar, assistir a uma série na Netflix... Enfim: fazer qualquer coisa para se distraírem e acabarem com essa ansiedade que não tem razão de ser (calma, gente! Uma hora vocês vão ficar sabendo!).
Também é fundamental não dar ouvidos às vendedoras de lojas que querem te apressar a comprar itens do enxoval ou do quarto do bebê. Quando eu estava com 11 semanas e alguns dias de gravidez – e minha barriga sequer aparecia –, o Rafa e eu entramos numa loja de decoração para olhar uns quartinhos de bebê. Queríamos só olhar, mesmo, sem nenhum compromisso, porque ainda era muito cedo para tomar qualquer decisão a esse respeito. O risco de aborto ainda era alto, não tínhamos divulgado a gravidez para muita gente, não sabíamos o sexo do bebê.
A despeito de tudo isso, a vendedora que nos atendeu ficou me pressionando para que eu decidisse logo como seria o quarto. Falou que a mobília demorava a ficar pronta, que eu não podia deixar para última hora, que eu não precisava saber o sexo do bebê para decidir como seria o quarto (oi????), que já estava na hora de fechar, e que a minha barriga já estava, sim, aparecendo (ai, ai...). Não preciso nem dizer que é óbvio que eu não fechei negócio com essa vendedora.
Dois meses depois, fui a uma outra loja comprar os móveis para o quarto do meu filho e a vendedora (essa, sim, muito simpática) me elogiou por eu estar olhando tudo com bastante antecedência (hahaha!). E foi exatamente nessa loja em que eu comprei a mobília.
Enfim: pessoas inconvenientes sempre existirão – e acho que talvez o número de palpites infelizes aumente muito depois que o bebê nasce. Ignorá-las é uma questão de treino e de autoconfiança, e uma atitude essencial para que vivamos a gestação de uma forma menos estressante e ansiosa; por isso, acho importante que nós, grávidas, nos mantenhamos sempre informadas acerca dos temas afetos à maternidade e seguras de nossas escolhas e decisões em relação aos nossos filhos. No final das contas, somos nós que realmente importamos para eles! :)