Quando tomei consciência disso (de que eu estava me apropriando do modo de escrever de outra pessoa), dei uma editada no que havia escrito, mudando algumas palavras e o próprio estilo de escrita. Estava tentando, assim, aproximar o texto de mim. Mas isso não é estranho? Ter que tomar cuidado para que o meu texto transmita a minha personalidade? Não seria lógico esperar que um texto escrito por mim tivesse naturalmente a minha cara?
Eis o "x" da questão.
Refletindo sobre o que aconteceu, fiquei ainda mais certa de algo que eu já sabia: somos esponjas. Assimilamos o conteúdo do ambiente no qual estamos imersos; absorvemos tudo o que está à nossa volta. E daí repetimos comportamentos que vemos serem adotados; pronunciamos as palavras que escutamos os outros dizerem; formamos nossa opinião com base no que lemos e ouvimos... E fazemos isso, em grande parte das vezes, de forma completamente inconsciente. Sim, somos esponjas. É claro que, em maior ou menor grau, controlamos a nossa capacidade de absorção. Não reproduzimos todo o tipo de atitude que vemos por aí afora; não usamos todo e qualquer vocábulo que escutamos; e, em regra, não somos papagaios propaladores da opinião alheia de forma irrefletida. Porém, todos estamos imersos em uma cultura, e chega uma hora em que é inevitável agir de determinada forma, porque é a ela que estamos habituados. O homem é, de fato, "produto do meio", ao menos no sentido de que reproduz comportamentos culturalmente incorporados.
Diante desse quadro, acho que duas atitudes se afiguram importantes e necessárias: a primeira delas é ter um potente filtro, agindo reflexivamente sobre as influências externas que chegam até nós. Porém, como nem toda influência é perceptível, precisamos também tomar cuidado com o meio em que mergulhamos. É claro que a realidade do mundo é triste e ele está cheio de coisas erradas; não dá para, simplesmente, ordenarmos que "parem o mundo, que eu quero descer". Assim, partindo da premissa de que temos que aceitar o fato de vivermos numa sociedade cheia de mazelas, é preciso pensar em nível micro, ou seja, nos nossos hábitos individuais, nos ambientes que frequentamos, no tipo de produto que consumimos e nas pessoas com quem convivemos diretamente.
Em termos práticos, as reflexões que aqui proponho são:
- Quem são as pessoas com quem convivo de perto? Elas trazem coisas boas para a minha vida? Sou suficientemente próximo(a) das pessoas que admiro? Ou deveria buscar estar mais próximo(a) de pessoas que transmitem o bem?
- Qual é o tipo de cultura que eu consumo: ela acrescenta algo bom à minha mente?
- Que tipo de música eu escuto? Eu ouço esse estilo musical porque eu gosto? Ou simplesmente porque está na moda? Essa música me traz boas sensações ou, pelo contrário, me deixa nervoso(a) e estressado(a)?
- O que o meu vocabulário diz sobre o meu humor e a minha personalidade?
- Tenho procurado tirar da minha mente o que não interessa, fazendo um verdadeiro "detox mental"?
- Minhas atitudes e hábitos são refletidos? Ou não passam de meras repetições de comportamentos socialmente praticados?
E você? Já pensou sobre isso?