Quem fala que criança não sofre ou está se fazendo de bobo ou sofre de amnésia. Criança sofre, sim. Talvez ela não sofra pelos mesmos motivos que os adultos. Talvez não demonstre da mesma forma que os adultos. Talvez, até, a criança sofra mais do que os adultos, porque não sabe mensurar a importância e a desimportância de certas questões na vida. Criança sofre porque foi a última a ser escolhida no time da escola; sofre porque tirou nota baixa; sofre porque sofreu bullying; sofre porque o cabelo é assim; sofre porque a cor do olho é assada... Sofre por bobeiras e sofre por coisa séria. Não quero, com isso, dizer que a infância seja um sofrimento. Em geral, não é. Mas também não é aquele mundo cor-de-rosa que muitos insistem em propalar.
Eu adorei a minha infância. Mas acho ótimo ser adulta! Acho ótimo, meeesmo! Adulto tem conta para pagar? Claro que tem, várias! Mas isso faz parte; é uma questão de arcar com a própria vida, ser responsável pelos seus custos, se bancar. Acho que isso é sinal de independência, e não vejo nada de ruim nem de errado nisso. É claro que eu entendo que, em circunstâncias delicadas, como uma situação de desemprego, ter que pagar contas não é algo a se comemorar; porém, o problema nesse caso não é exatamente ter que pagar contas (obrigação inerente à vida adulta), e sim estar desempregado.
A vida adulta, embora por vezes nos traga complicações (ter que tomar decisões importantes, ter que resolver problemas, ter total consciência sobre as mazelas do mundo) também nos traz muitas facilidades! Aprendemos a nos virar, a nos cuidar, a encontrar soluções mais práticas para problemas que, durante a infância, pareciam irresolúveis.
Fora que criança não pode trabalhar; e não há nada melhor do que ter uma profissão e exercer um ofício! Eu não tenho um amor incondicional ao trabalho, mas amo trabalhar, ter meu emprego, poder pagar minhas contas, ser independente. Não é à toa que falam que o trabalho dignifica o homem: por meio dele, faz-se um bem não só a si mesmo, mas também à sociedade.
Ao menos na minha concepção de mundo e de vida, a condição de ser trabalhador é bem melhor do que a de ser estudante. Eu não gostava muito da condição de estudante, não! Eu não ganhava nenhuma remuneração direta e imediata pelos meus árduos esforços como estudante; tinha que apresentar trabalhos e fazer provas nos dias em que os meus professores bem entendessem; era obrigada a estudar matérias que não me interessavam ou que não aparentavam ter qualquer aplicação prática; levava trabalho pra casa... Sim, porque ninguém leva tanto trabalho para casa como um estudante! As horas gastas em aula não representam metade do tempo de dedicação exigido de um estudante que leve o curso a sério.
Talvez eu não seja a pessoa que tenha mais propriedade para discorrer sobre esse assunto. Afinal, se considerarmos que a vida adulta se inicia aos 18 anos, eu vivi muito mais tempo fora da vida adulta do que nela. Então, pode ser que minhas percepções sobre o tema mudem um pouco ao longo dos anos. Espero, porém, que isso não aconteça! De toda forma, recuso-me e sempre me recusarei a acreditar (e a propagar) que felizes, mesmo, são as crianças, e que só resta aos adultos lamentar pela ida de um tempo que não volta mais.
Um viva à vida adulta!